quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Cais e a Província...

Hoje, 11 de maio, no jornal A Gazeta foi publicado e-mail que enviei para ‘Opinião do Leitor’, comentando texto escrito por Fernando Achiamé sobre o Cais das Artes. Minhas reflexões tiveram um aproveitamento correto, apenas – creio que por necessidade de edição – o final foi cortado, mas sem grandes prejuízos. Então segue a íntegra, mostrando mais uma vez a falta de sensibilidade da Secult sobre como tratar a história da nossa arte:


O Cais e a Província

Concordo com Fernando Achiamé, no ‘Signo de Liberdade’ publicado sábado: “O Espírito Santo já nasceu globalizado”. Um porto marítimo parece sempre disponível para um diálogo global. E a cidade de Vitória desenvolveu esse diálogo, mas permeado de timidez e complexo de inferioridade nas comparações culturais. Porém tenho dúvidas quando ele afirma que o Cais das Artes “colocará os capixabas em relação estreita com o mundo por uma via de mão dupla: no caso, recebendo as influencias das artes produzidas no exterior e também oferecendo suas criações. Em pé de igualdade”.

A sinalização, na escolha da escultura para marcar o início da obra é que essa situação de inferioridade psíquico-provinciana deverá continuar. Amilcar de Castro tem reconhecimento merecido, mas se considerarmos que nosso principal escultor, Mauricio Salgueiro, completa 80 anos, porque não juntar os dois? Porque não iluminar nosso artista, também reconhecido nacionalmente, que aqui lecionou, trouxe referências cosmopolitas e realizou mostras de grande impacto?

Se o destino não for ajustado, vamos continuar sendo ‘bons’ consumidores de arte produzida em centros com maior poder, mas tão cedo não seremos considerados artistas capazes o suficiente para, mesmo com tantos talentos, sermos reverenciados nos nossos espaços mais importantes, nem em espaços de instituições de outros centros, que na verdade trabalham numa via de mão-única em direção ao consumidor capixaba.

Sou um entusiasta do projeto, que resgata uma dívida com o arquiteto nascido no Parque Moscoso, Paulo Mendes da Rocha. Mas infelizmente continua valendo a profecia/maldição do viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, que em 1818 anotou: “as luzes [do conhecimento] e a instrução só penetrarão na província do Espírito Santo com extrema lentidão”.

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Veja fotos de Maurício Salgueiro e saiba mais sobre a novela da Secult em:
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