quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nossos Valores

Foi-se o tempo em que o insólito porta-aviões “Minas Gerais” era a principal e mais secreta arma de guerra de toda Baía de Guanabara. Na verdade, tratava-se de uma sucata e provável negociata comprada dos ingleses por uma fortuna. O menestrel Juca Chaves, na época, prestou uma singela homenagem ao ancião velho de guerra, através de uma modinha à seu estilo: “Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões, cem vivas, pra Inglaterra 72 milhões, mas que ladrões..!” Não sei, pode ser.

Queridos e fiéis leitores, mantenham a calma e a confiança nacional: hoje a coisa mudou

Superando os grosseiros e barulhentos artefatos de guerra formal, nossos congressistas desenvolveram técnicas de destruição de massa que comparadas com a bomba de Hiroshima são meros foguetinhos de São João. O que é uma bomba de hidrogênio comparada aos anões do orçamento na missão de destruir o pais? As bombas destróem o país, o presente. Essa canalha, destrói a esperança no país, o futuro.

Então.

Com uma incrível capacidade e, a bem da verdade, extrema habilidade para autoblindar-se, eles, sem qualquer risco, lançam poderosas ações e aniquilam um país inteiro, extraindo-lhes dinheiro vivo, e, ato contínuo, as fazem desaparecer. Modestamente, melhor do que banco. Criança brasileira ama com fé e orgulho a terra em que nasceste. Jamais verás a volta de um tostão surrupiado.

Vamos tirar proveito dessa arma mortal que transforma qualquer coisa boa, em nada. Trata-se da grande especialidade desses senhores: a corrupção. Risonha, cínica e franca.

A técnica é fácil. Como tirar dinheiro de um profissional liberal? Rouba-se, chama-se a imprensa e dita-se o texto para os repórteres adestrados. A corrupção, minha senhora, torna qualquer coisa pública – obras, financiamento, trens, navios, estradas - numa questão relativa. A corrupção só dá espaço para a própria corrupção.

Então como usá-la como arma de guerra? Tremei, meros artesãos de bombinhas! Infiltrando, à título de colaboração, tais atletas especiais nos países inimigos ou concorrentes. Seria a aplicação da tática – quinta coluna – tão usada pelo – com licença da palavra - Hitler. Já pensou, através de um míssil terra-terra, lançar o casal Garotinho em um país inimigo?

Por mais que os cartolas da CBF inventassem o Dunga, com seus dois neurônios, e aquela horripilante camisa desenhada pela própria filha, mesmo para ele, é difícil escalar corruptos: são muitos os nossos valores. Vamos a alguns dos mais cotados. Queiram desculpar as omissões, mas não há espaço para todos. Nem na cadeia. Todos hão de querer entrar na boquinha. Já está cheirando a corrupção dentro da corrupção. Não é bacana?

O tristemente célebre ex-deputado, ex-ministro, ex-croto, José Dirceu, seria o capitão do time. Tem brilho próprio advindo do dinheiro dos outros, é notório especialista em formação de quadrilha, peculato (roubar dinheiro público usando o cargo), corrupção ativa.

O ex-clone de guerrilheiro José Genuíno, um de seus guarda-costas, ajuda o chefe a formar quadrilhas ficando com a tarefa de seleção por psicoteste, peculato e corrupção ativa. Corrupção passiva deve ser quando a pessoa leva, mas dói. Não é o caso.
O ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi o rato que tomava conta do queijo. Também fez mestrado nas três áreas comuns a quase todos eles: Corrupção, Peculato e Formação de Quadrilha. Deveriam formar mais um partido, como todo mundo, com as iniciais das especialidade: PCPFQ. Bacana: Partido da Corrupção, Peculato e Formação de Quadrilha. E o célebre bandido Escadinha morreria de inveja, caso já não estivesse morto..

Para evitar que Fonseca, meu idiota amigo, acuse-me de machismo não poderíamos deixar de citar Simone Reis do Lobo Vasconcelos, Diretora Financeira da poderosa SMPB, muito mais expert do que as qualidades anteriores dos cúmplices: também graduou-se em evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Modéstia à parte, diz ela.

A simpática agente secreta Kátia Rabello exerce as delicadas funções de gestão fraudulenta, evasão de divisas além de ser secretária executiva do novo partido, o PCPFQ

Não é lindo?

E pensar que há poucos anos a mulher era discriminada e nem podia votar - e nem ficar por cima na cama

Queridos leitores, com nossa brigada Ali Babá, não tem pra ninguém.

Estão convocados para irem treinando até pintar a guerra. E ainda tem gente demais para convocar, entre eles – Marcos Valério Fernandes de Souza, Ramon Cardoso, Cristiano de Mello Pais, Rogério Tolentino, Geiza Dias dos Santos, José Roberto Salgado, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, João Paulo Cunha, e, imenso, eu disse imenso, elenco.

Mais uma vez o mundo há de curvar-se diante do Brasil.

Só para relaxar (Parte 3)

“Buzine forte, ao abrir o sinal. Sou cego”. (Aviso no parabrisa traseiro de um jipe)

“Diz-me com quem andas e te direi quem és” (Sei não. Judas andava com Cristo. E Cristo andava com Judas).

“A única obrigação da pessoa na vida é fabricar recordações” (Acho que foi Goethe)

"Jamais peque contra a castidade. Sempre a favor"

terça-feira, 23 de junho de 2009

Só para relaxar (Parte 2)

“Me acaricia o sonho de teu suave murmúrio, de teu suspirar, como a vida sorri se teus olhos negros querem me olhar. E se é meu o amparo de teu sorriso alegre que é como um cantar, ele aquieta minha ferida, tudo tudo se olvida” (Em "El Dia Que Me Quieras" - tango de Gardel)

Le roi est mort, viva a monarquia


Reclamado de quê, plebe rude ignara?

Se a senhora aí encontrar com o deputado Zé Dirceu ou algum de seus cúmplices em um shopping, o que vai acontecer? Com todo o respeito que merece a senhora, iria, no mínimo, pedir autógrafo ao meliante, sobre quem acabou de saber das mais recentes falcatruas. Os membros da Corte podem fazer o que quiserem. O rei jamais fica nu, esqueceu?

Acontece que no Brasil, em que a república e a democracia passaram ao largo, sobrevive a propaganda. Lembram do tristemente célebre Goebells, assim, assim, com Hitler? Pois é, fez a Alemanha inteira acreditar que todos eram um cruzamento perfeito entre Nietch e o Klark Kent.

Se não vejamos.

Somos uma democracia, onde o poder emana do povo, para o povo, essas coisas, não é mesmo? O poder resgata com dispêndios e manhas para menos de seis por cento da população toda a grana disponível no país. Os demais são miseráveis e invisíveis. A cada vez mais escassa classe média tenta equilibrar-se como um bêbado em uma corda bamba, apatetada, isso mesmo minha senhora, aparentando.

Isso faz muito bem ao país que como toda ditadura – e esta, baseada na corrupção e catástrofe cultural é a maior de que tive notícia – basta propagandear. No caso do Brasil, é mais fácil ainda, já que os miseráveis estão recebendo migalhas que nunca receberam antes e publicidade em cima. Nada comparável a Getúlio Vargas, mas o presidente atual iguala-se. E tem razão. O populacho que o elege, não tem a menor consciência de si e do seu mundo.

E a velha massa de manobra, sempre atribuída ao comunismo, nunca esteve tão atuante. Quem elege esses canalhas como representantes não é classe média crítica. Esta está distraída vendo novela ou tentando conseguir um convite para aquela festa no Country Clube. A alienação total é a palavra-chave de nossos tempos, senhora que me lê.

Vou citar um exemplo bizarro, e cômico, caso não fosse trágico. Um estudante médio, universitário, não sabe e nem tem ideia se estamos em uma democracia, uma ditadura, o que quer que seja. E têm toda a razão. A senhora sabe?

Que democracia é essa em que o vice do senador é indicado pelo senador. Geralmente, quem entra com a grana para a propaganda. Que democracia é essa em que o poder judiciário é – na sua cúpula – escolhido pelo presidente? Uma farsa, naturalmente, tão obscura quanto os negros tempos do stalinismo.

Que democracia é essa em que todas as greves – inclusive, e principalmente, as do funcionalismo público – que resultam em declaração de ilegalidade e um arrocho de zero por cento de reajuste há 15 anos. Não tem grana?

Então porque inventar uma aberração metafísica chamada Ministério do Planejamento Futuro – só faltava planejar o passado – com 800 cargos em comissão, eufemismo para o tradicional entrar pela janela.

Há muito tempo que não aparece um governo que faça bem ao país, já que a cúpula nacional está concentrada naquelas inacreditáveis cavernas de Ali Babá, chamadas de Congresso Nacional. Mas este aqui faz questão de publicar – no sentido de “mostrar ao povo” – a bandalheira. Como são neófitos e recusaram-se a pedir dicas aos profissionais como Fernando Henrique caem como uns patinhos. Carregam, por exemplo, dólar na cueca.

Fernando Henrique doou o país sem perder a pose.

Malandro-agulha não perde a linha. Ou para fazer um trocadilho infame: não perde, alinha.

Gostou? Nem eu.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

E agora, José?



"Nosso presidente está cheio de razão. ´O sarney nao pode ser tratado como uma pessoa comum`. A pessoa comum trabalha, não é corrupto, não é corruptor, não é ladrão, não é um parasita, não é corporativista, não muda o domicílio eleitoral do seu Estado e faz uma pesquisa com nosso dinheiro para eleger-se senador por outro Estado onde nunca vai, apesar de residir lá. Isso só para citar algumas pequenas coisas...A pessoa comum, se cometer um crime, vai em cana mesmo."


P.S. Este presidente tem 70% de aprovação.

Enviado por Evaldo

Abelha Rainha


"Ora veja, não sou uma águia. Sou um velho numa bicicleta branca deslizando encosta abaixo, sem a menor intenção de meter uma bala na cabeça. Este ano e eu atingimos o outono de nossas vidas e o que estou fazendo me traz de volta à terra. Estou deslizando e me pergunto por que fracasso é associado a uma descida sem fim. Certamente não é essa. Qualquer menino descendo num skate vai dizer que a maior emoção é no final da ladeira, logo antes da próxima subida. Encho os pulmões com o ar de outono, meu coração transborda de bem-estar. Meu Deus, se o fracasso é isso, que dure para sempre!". (Anthony Queen)

"A grande peça que a biologia prega nas pessoas é que a gente já é íntima antes mesmo de saber coisa alguma a respeito da outra pessoa. No primeiro momento, já entendemos tudo. Um é atraído pela superfície do outro no início, mas também intui a dimensão mais profunda. E a atração não precisa ser equivalente: ela se sente atraída por uma coisa, você por outra. É a superfície, a curiosidade, mas então, pum! Eis que surge a dimensão profunda....." (Philip Roth)

Frases enviadas por Cristina Abelha retiradas do livro "Tango Solo", Anthony Queen, e "Animal Agonizante", de Philip Roth, diretamente de Brasília.

Só para relaxar


"Jamais me casarei. Sexo obrigatório só mediante estupro"
(Tia Cecy depois de Woody Allen)


" Não subestime a masturbação. É o mais íntimo e verdadeiro sexo com a pessoa que você mais ama"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

O regime Frescobol

Já imaginaram um jogo em que não há vencedor ou perdedor? Sequer o empate ocorre? Além do mais em tal modalidade, como diz o jornalista Pedro Maia, de porfia cada adversário esforça-se para facilitar o jogo do outro.

Isso mesmo, minha senhora, é o frescobol. Quem não conhece aquele bate-bola na praia em que duas pessoas passam horas batendo e rebatendo com raquetes de madeira uma bolinha pra lá e pra cá, pra cá e pra lá

Pois então.

Distinto público nada mais parecido com a relação entre os três poderes do Brasil. O Executivo, o Legislativo e o Judiciário, justiça seja feita, inventaram o frescobol a três. Cada um com suas raquetes cravejadas de ouro facilitam a bolinha do outro. Uma graça.

Assim é que todas as greves no Executivo são julgadas ilegais pelo Judiciário. As auto-apurações das roubalheiras legislativas são aparadas com carinho pelo Executivo, que devolve a bola, sempre com a vista complacente dos três.

Agorinha mesmo, enquanto petistas de última hora que impregnam as repartições públicas, já que são ternos e fiéis cabos eleitorais pagos com dinheiro público, praticam verdadeiros assédios moral contra servidores concursados. Sabemos, por exemplo, que um neto semialfabetizado de José Sarney – que agora é lulista desde criancinha – entrou janela adentro com um salário absurdo no chamada nepotismo cruzado no gabinete de Cafeteira, que devia estar fazendo café e não pilotando a nação.

O governo devendo horrores a seus funcionários verdadeiros nega os reajustes, apoiado pelo sistema frescobol, enquanto entram janela adentro apadrinhados de todos os credos, cores e religiões. Diante do caos tudo parece lógico: até a cota racista de negros para as universidades.

Enfim a reforma agrária



Os eternos donos do poder lotearam em todo o país as estradas. Minha caríssima senhora, além desse montão de impostos - impostos, claro - inclusive o IPVA, temos que pagar pedágio de estrada. Este para Guarapari é campeão nacional de roubalheira. Cobra ida e volta, quase R$ 7. E ainda tem a iluminação interrompida. Entre Vitória e Búzios são dois pegágios de 2,50, na ida e na volta. É claro que muita gente enriquece horrores explorando literalmente o povo. As pontes são construidas para gerar grana para os amiguinhos do poder. Mas deixa pra lá, que o Ronaldinho não está jogando bem.

domingo, 7 de junho de 2009

Amor e gelo

Permitam-me, estimados leitores, que exponha aqui a inevitável admiração por Fonseca (foto), meu amigo idiota, justo agora que acaba de escrever sua segunda obra. Mesmo adepto da própria máxima que lhe povoa a mente – “De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo” – sou obrigado a mudar de ideia, e o faço com extrema reverência. Por detrás daquelas estranhas e ininteligíveis garratuchas, quantas coisas sutis que sempre pertenceram ao enclausurado mundo de Fonseca vêm operar fora de seu pequenino cérebro.


O seu segundo ataque à flor do Lascio, como insinuam os poucos letrados, tem um insólito título: “Esculhambação - A Organização Caótica do Caos” . Não cabe a mim sequer interpretar o que ocorreu junto à mortalha do pai quando proferiu citando Pessoa: “Não rezem latim sobre seu caixão, ou, se quiserem, rezem. Ele não quer ter preferências para quando não puder ter preferências. A realidade não depende dele nem de ninguém”. Ainda bem. Pois então.


Folheio um livro de contos em busca de personagens. Ultimamente os personagens que encontro são todos projeções de mim mesmo, de modo que acho pouca coisa fora dos meus limites, o que revela uma certa miopia para o mundo criativo, seja como ele for. E dentro de mim paira o caos, o engraçadíssimo caos, pai do humor, dos humores, e da inteligência. Remeto-me à esculhambação.
Estou diante do capítulo 23 das obras completas de Fonseca: um único livro, porém limpinho. Não importa, já que toda a representação é subjetiva e repleta, inclusive, do que não somos ou do que desejaríamos ser. E ai de nós se não fosse assim. Não seria nada. Trato então de reproduzir, fielmente, trechos do 23, o tal capítulo, denominado “Jingobel, Jingobel, acabou o papel, limpei com jornal..."


Não entendi nada, mas acho que Fonseca não tem tal consideração com o próximo: fazer-se entender. Enfim, trata-se de uma obra de semi-ficção contada por seu avô, igualmente Fonseca, quando decidiu abandonar a civilização – a família morava em Caravelas, na Bahia – e foi sozinho arriscar-se nos confins do Judas, o Alasca, depois de entrar triunfalmente nos Estados Unidos, via México, andando feliz pelas areias do deserto com velocidade recorde, incentivado que estava pelos tiros dos guardas americanos de fronteira, que acham que todo mundo quer morar naquela merda. Pior que eles têm razão.


Acabou fixando residência, o Fonseca avô, naquela geleira, onde adquiriu uma cabana abandonada e não tinha contato com ninguém. De seis em seis meses caminhava horas para comprar mantimentos e durante dez anos jamais falou com ninguém ou teve qualquer contato com algo que não fosse banha de foca, carne seca e água. Pois bem.


Barbudo e abandonado pela própria sorte, ou azar, vai saber, estava quase voltando para Bahia, a conselho de Caetano Veloso, que sempre faz isso, só de raiva. Lá teria trabalho, como todos os baianos. No caso dele o sacrifício consistiria em embalar-se em uma rede de armar, colorida em rosas brancas e amarelas, e esperar chover para tomar seu banho bem devagarzinho, entre outros sacrifícios do gênero.


Mas eis que surge o inesperado. Era então tempo de Natal, o frio e a neve não davam trégua.
A solidão que buscava já a havia encontrado de sobra. Tarde da noite, antevéspera do regresso, aparece uma transição entre o homem e a retroescavadeira, ou seja, um cara imenso tanto para cima como para os lados. Bateu na porta e vovô Fonseca atendeu. Falava uma língua que jamais se soube qual era, mas deu para entender.


- Hoje, Natal em casa, você convidado .

- Obrigado.

- Mas vai ter muita bordoada, briga de facão e o cacete...

- Faz parte, naturalmente. Eu sei comportar-me em sociedade...

- Mas vai ter sexo, sacanagem, a lei do desejo, a submissão, o amor sem preconceito, viver o oposto do gelo frio e desafiador...

- Mas é justamente o que estou precisando agora.

- Então aparece.

- Escuta, amigo, qual é o traje?

- Você é quem escolhe. Só vamos estar nós dois. (Fecha o pano, volta o elenco para mais aplausos, a orquestra toca o tema final, fecha a cortina de novo, e abre, e fecha e fica nessa lengalenga).

Cecy em Brasília


Certa vez um desses milhares burocratas de Brasília enviou uma circular proibindo médicos e outros servidores públicos federais de viajar de primeira classe, em voos nacionais ou internacionais. Seria cômico, se não fosse trágico. A instituição não dispunha - para os trabalhadores, claro - de verba, sequer para uma viagem ao interior do Estado, de ônibus, que fosse. Andaram naquela época tentando impressionar o FMI, entre outros truques cortando radicalmente despesas que não existiam, dizem os entendidos.

Bem fazia minha querida tia Cecy (foto) tão precavida que não casou ("Sexo obrigatório só mediante estupro", explicava) e jamais desembarcava em Brasilia, a cidade que nunca existiu, sem um guarda-chuvas, um lança-chamas e uma metralhadora Uzi de fabritcação israelense e uso exclusivo das forças armadas, mas que todo bandido tem.

O, por assim dizer, governo do então FHC decidiu, com a mesma arbitrariedade da ditadura que fingiu combater, que "concurso público não mede a capacidade de ninguém" e anulou o efeito deste, mesmo para os já concursados. O critério passou a ser a perversão: nepotismos, vínculos de amizade, e outras sacanagens de conhecimento público. Como se sabe, os cargos federais são cabides de emprego para cabos eleitorais. Esses, evidentemente, matam-se em suas principais tarefas de campanha que ninguém é besta para perder a teta governamental. Tudo isso, às nossas custas, minha senhora. Nessa estranha e bizarra brincadeira entraram no seu governo – Lula viria a fazer o mesmo – 140 mil pessoas pelo janelão. Feito isso, vendeu o país. Então.

O país sem lei, governado por casuísmos, enveredou para isso que todos vemos. Cada um fabrica sua própria ética. As instituições públicas são olhadas com desconfiança e a população – toda – morre de medo dos bandidos. Os pobres bandidos, bem entendido. Não se discute, como se sabe, as questões verdadeiras. O que se esperar de uma nação que orgulha-se de possuir a segunda maior concentração de renda do mundo. No Brasil quase toda a grana está na mão de menos de 10% das pessoas. Os 90% de miseráveis que se virem. Alguns se viram. Ou seja, instala-se a fabricação de miseráveis famintos em série. Daí a uma quadrilha não está faltando nada. Sem contar as bandalheiras do bacanas, digamos assim sempre impunes.

Lula se vira à la Perón distribuindo esmolas e garantindo o tipo hediondo de popularidade baseada nas frases feitas, na imagem dos contos de fadas e na gigantesca ignorância nacional em quase todas as classes sociais. E os médicos com isso? Um profissional da categoria citada, com 30 ou mais anos de serviço, admitido através de concurso público – lembram do finado DASP, responsável pela seleção? – com mestrado, doutorado e devidas especializações percebe o líquido de pouco mais de dois mil reais por mês. Sem contar com as imorais reduções de salário, cada vez que um feiticeiro da economia – Bresser e semelhantes – resolve engordar a caixa dos BBB oficiais tirando diretamente do bolso do funcionário. Vemos na imprensa as justas reivindicações de profissionais de “carreiras especiais” para o reajuste de seus salários – para mais de 20 mil, por exemplo.

Um médico, para começar, tem como objeto de trabalho e estudo o semelhante. O outro, o cliente é a sua própria representação e a sua doença também. Cada exame, cada diagnóstico é extremamente mobilizador, hipocondrias à parte. O médico trata daquilo de que vai morrer. Não seria especial essa carreira? Senão, por que não?

O quadro se apresenta como um filme de terror. Hospitais mal aparelhados, para onde migram todos os problemas sociais, inclusive sustentados por homens e mulheres que cumprem o juramento de Hipócrates, alguns já sexagenários, em pronto-socorros e enfermarias sem condições de trabalho, muitas vezes sem poder dormir. Essa carreira por acaso não seria especial? Senão, por que não?

Quando aperta o bolso os sindicatos ligados à classe – alguns "lulistas" que só vendo – simulam uma greve que invariavelmente é julgada ilegal. O governo faz o que faz com todos: manda umas esmolinhas de centavos, divididas em sete anos. E olhe lá.

Então é isso que é essa uma carreira especial? Ah, bom.

sábado, 6 de junho de 2009

Deu é amor




A finada tia Cecy, em seus rompantes de exagero, dizia que jamais lhe havia passado pela ideia casar-se, porque sexo obrigatório só faria mediante estupro. Fonseca, meu amigo idiota, quando está transando com garotas de programa disse-me ter a estranha sensação de que não está sendo verdadeiramente amado. É que mentes cínicas e estreitamente positivas lhe confidenciaram à boca miúda que dinheiro compra até amor verdadeiro. Que absurdo.



Lendo uma vibrante revista semanal sobre o tema, estanquei. Através de depoimentos de pessoas comuns, por assim dizer, que praticam o esporte em questão, e filhas de famílias bem dotadas de dinheiro e importância social, optaram livremente pela citada carreira artística. Os depoimentos deixariam qualquer sociólogo desempregado.


As entrevistadas ganham mais do que a grande maioria dos profissionais liberais, que se julgam bem sucedidos, especialmente médicos do serviço público federal. Elas a-do-ram a doce vida que levam. Aos 30 anos já se aposentam. Vergonha total para o INSS, que exige que as meninas comuns cheguem aos 65 para dar aquele troquinho sem vergonha. Quem são afinal essas pessoas, dessa exultante e insólita classe ascendente que vende amor?



Vou aos anúncios dos jornais. Afinal, os classificados do mundo estão repletos de ofertas de companhias afáveis, com preços módicos, características especiais e perversas promessas. Pego o telefone.


Para começar, não sei o que aconteceu no fatídico ano de 1991, para que quase todas as garotas de programa anunciadas tenham 18 anos. Algum eclipse? Terremoto? Baile funk? Não me lembro. Eclipse do sol, da Terra, do mar? Deixa pra lá.


Então, aos anúncios.


Apresenta-se no pódio, loira linda, ninfeta iniciante para exigentes. Que tipo de público quer atingir? A clientela seria composta por reprimidos, Laios, Jocastas e Édipos invertidos, que seriam possuídos por alguma palavra do anúncio? Pois bem: 150 paus, 30 minutos. Se quiser liga. Fonseca é patologicamente fiel a uma certa Aline – na verdade Maria das Dores, como me contou – com 18 anos, é claro, seios fartos, cabelos longos, recém-chegada (não importa de onde). Até hoje mantém o relacionamento estável e duradouro com um taifeiro da Marinha Mercante, mas faz esses bicos para ajudar no orçamento do lar. A prima de Fonseca, Lorialva, optou pela "haute" prostituição: casou-se morrendo de ódio com um milionário escolhido pela mãe.


Calma pessoal que tem homem também na parada. Um jovem lá, também da incompreensível safra de 1991, que além de massagista apresenta suas qualificações opcionais: garotão malhado, bronzeado com marca de biquíni. Não. Não, não, espera aí errei: a marquinha era do anúncio ao lado. Ou não, não lembro.


A ideia da revista pornô é introduzir o gosto pela profissão “como outra qualquer”. Os editores da publicação hebdomadária que me perdoem não estar tão alienado do mundo quanto eles. Ao menos por enquanto. Tal tipo de miséria vai se aproximando da dantes sempre poupada classe média. A matéria da revista é perversa e cínica e opta por dourar uma pílula mortal: transformar em opção o que é necessidade. Burguesa, é claro, mas necessidade. Afinal, um pálio, último modelo, com ar-condicionado, volante, rodas, está os olhos da cara.



Há trechos insuportáveis, que jogam essas belas pessoas sem a menor chance na vida e sem juízo de qualquer espécie a defender a honra com uma razão de ocasião. Para se ter amor, sexo e felicidade, a prostituição não é nem jamais foi o caminho do desejo real, creio. A não ser que seja, vá lá, em alguns casos de pequenas loucuras. Fonseca acha que dinheiro compra até amor verdadeiro. É, pode ser.



Esconder deliberadamente dos leitores a necessidade óbvia – a própria matéria deixa transparecer - e a futilidade que obriga esses miseráveis a fazer o que não querem como único acesso às benesses naturais da vida, é jornalismo sádico. A vida é sadomasoquista. Ao jornalismo cabe a transcrição da vida, quando muito;



Loucas crianças amarguradas com marcas de biquíni e outras marcas, especialmente na alma, quem vos fez desiludidas? Os poderes nos governos não têm um leito, um acalanto para ninar e amamentar os filhos, Perdão pela omissão de todos nós outros.


Como dizem eles as coisas este ano estão muito melhor.


Que no ano que vem.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

As mil e uma mortes de Augusto da Fonseca


Ninguém o conheceu vivo ou morto.

A primeira vez que morreu foi quando o abandonou o avô João, ícone da segurança, da aventura e da raça. Depois morreu de novo, quando se despediu para sempre da avó Alice, em cujo colo cabia todos os netos e alguns amigos.

Voltaria a morrer muitas vezes, para tempo depois, como uma Fênix e como queria Melanie Klein, nascer de novo. Outra vez morreu quando lhe morreu o casal de irmãos, levando junto a alegria de viver da mãe e um vizinho chamado Cazinho Bom de Bola, mas não prestava atenção nos ônibus que passavam correndo feito uns danados. Um dia morreu porque apaixonou-se por uma menina de colégio, a Glória, e ela jamais veio a saber disso. Morreu no dia em que ela arranjou um namorado mais feio que ele.

Morreu de novo quando o time em que jogava futebol de salão perdeu a final para o time do Grêmio da escola. Como não fosse o bastante, perdeu um penalty e toda a vontade de sair naquela semana. Veio a morrer novamente quando suando até, encostou o dedo mindinho no dedo mindinho da coleguinha no teatro e ela retirou rápido. A primeira rejeição ninguém esquece.

Morreu, também, quando uma das duas calças compridas – marrom de casimira – sujou de óleo, desgraçado para sair. Ao lavar na Brastemp saiu arrancando um pedaço,
como sairiam todas as suas coisas. Era tão linda aquela calça casada com uma camisa amarelo-ovo que ficou sem par.

Morreu ainda quando se apaixonou correspondido e acabou perdendo o amor para o nada, o medo, a indecisão. Desceu aos infernos no primeiro dia. Séculos depois, quantas travessias para amar a sua casta Dulcinéia, em Paul, e em todos os lugares. Morreu de novo.

Passou muito tempo sem morrer e sem viver.

Só foi morrer quando – sendo ele Flamengo doente – viu seu time perder por causa de um ponta direita muito do ruim de bola perder vários gols e jogar mal. Preocupava-se então com o grotesco do cotidiano.

Em estado morto passou a torcer pelo América Futebol Clube do Rio, junto com seu querido tio Landinho, o que por si só é uma morte lenta e inexorável. Aliás, acabou de morrer.

Morreu insistentemente quando não acabou o primeiro casamento, mas teve que acabar.

Morreu muito, morreu demais. Há coisas além da morte que até Deus duvida.

Morreu historicamente quando o país e as verdadeiras forças armadas foram invadidos pelo esquema dos Estados Unidos, no Golpe de 64, que criou em laboratórios militares de plantão que servem a qualquer sacanagem imperialista. Mas lutou mesmo morto. E morreu de novo.

Que eu me lembre só veio a morrer novamente quando teve que abandonar as redações de jornais e revistas para fazer medicina. Morreria muitas vezes nesse território, cheio de incompletude, pronto-socorros, no fundo. Mas nascia de novo a cada sorriso que se recuperava no outro. E voltava a morrer a cada consciência de que fazia emergência. Não há um curso de Medicina no mundo – achava – há cursos de emergência clínica, uma grande UTI porque ninguém se importa com a saúde, só com a doença. E morria a toda hora, o cara.

Morreu outra vez quando lhe saiu o pai, que era uma mãe, que era tudo. Até hoje conversa com ele, escondido da patrulha senão volta para o Adauto Botelho em outra função. Morreu muitíssimo aí. Dessa morte ressuscitaria, apenas porque foi a pedido do pai. Não me perguntem como, porque não sei. São coisas só dele.

Morreu novamente quando se despediu da mãe e recebeu dela as duas alianças em leito prenhe de infecção hospitalar. Morreu tanto, que pensou em abandonar a Medicina, já que escrevia. Morreria de outra feira quando descobriu que a concepção binária de causa e efeito da psicanálise é uma tolice simplificadora demais. E morreu da teoria. Nasceu pensando as coisas pela Física, e não pelo físico.

Morreu um tanto quando lhe foi o segundo casamento, por – segundo ele – pura incompetência. Eu lhe disse que não era assim, as coisas tem outros lados. Não me ouviu e morreu de novo. Acho que já estava acostumado, sei lá.

Morreu, quando morreu Paulo Torre e, depois, Raimar. Também aí morreu, tanto que o vi ficar com raiva. Pedi-lhe que não morresse, mas novamente morreu.

Teve outras pequenas paradas no intercurso, mas nada que Helinho ou Rogério Montenegro não pudessem acalmar, mesmo tendo tido – sempre quis escrever essa expressão – a perna quebrada por ele em uma pelada no Ouriço Futebol Clube. Morreu um mês, ficando sem jogar bola.

Morreu de novo quando sumiram o próprio Ouriço, o Britz, os bares da Praia do Canto, o Praia Tênis, a navegação costeira e o SMS Ana Nery, irmã do Rosa da Fonseca, o Hillary e o Hidelbrand da Booth Line, os lotações que serviam a Praia do Suá, do Marinho Delmaestro, o vocabulário cabixaba (cancha, ponga, furrupa, camarada...).

Nasceu com Rachel, e morreu dez anos depois. Renasceu com Viviane em encantamento e dor. Logo morreria. Pedi-lhe calma, que não andasse desperdiçando em velórios multicoloridos suas vidas felinas, mas que nada. Precisava morrer para viver.

Fui aos poucos compreendendo isso. Eu chegava a ficar perto de suas tantas sepulturas, calculando o tempo, para assistir o renascimento. E o pegava no colo cada vez mais cansado, mas sempre vivo. Trazia-o, como ainda o trago, com carinho beijava-lhe o rosto dava um banho de banheira, vestia-o com uma de suas melhores fantasias e jogava-o no mundo.”Vai fazer o que eu não consigo, vai, se precisar, pode morrer de novo!”.

Eu cá estou para envolver-lhe em um manto, carregá-lo até a exaustão, dar-lhe sopa na boca e um suco de cupuaçu, como fizeram tantos e tantas que não pudeste ver ou ouvir Peço que deixe que eu traduza o seu pranto e a sua aparente arrogância na meiguice que é.. Comigo pode ser ele mesmo, que não tenha medo.

Agora acabou de morrer. Está censurado, não pode escrever.

Não mais.

A imprensa imprensada


Nos anos da mais fresquinha ditadura que ainda reacende no ar, trabalhando em "O Diário", o maior jornal da Rua Sete de Setembro, em Vitória, vivemos algumas situações cômicas se não fossem trágicas. Mesmo que toda tragédia seja cômica, vide Shakespeare

A censura prévia nas redações, que consistia em um idiota examinando, com sua cultura amebiana, o material a ser censurado, dividia dentro de seu pequenino cérebro o engenho e a arte em duas grandes convicções: comunista e não comunista.

Depois baixou como o Zepilin, do Chico Buarque, a autocensura, que é pior, porque transforma seu sobrecarregado superego em um censor vil, pior que o, por assim dizer, oficialmente, imposto. Cabia ao jornalista burlar a lei, uma forma difícil de resistência que exigia coragem, tolerância ao terrorismo de Estado e, last but not least, humor.

Quando havia alguma maldade especial que esses canalhas faziam – e não eram poucas – os policiais vinham à redação oficializar em um documento sem assinatura a proibição. Denunciei naquele inquérito sobre perseguidos políticos na Assembléia, mas não saiu no livro sobre o tema, lançado por Cláudio Vereza. Só no disquete à parte, porque ninguém é de ferro. Eu, hein

Assassinatos por tortura, por tiro, por inanição, eram relatados nas notas à imprensa e com o sórdido preâmbulo: “De ordem superior, fica proibido a divulgação de Fulano em choque com a polícia”. Sem assinatura, claro.

Canalhas não se assumem, muito menos assinam. Assassina. Por exemplo: onde se lia “Em choque com a polícia...” leia-se pessoas – inclusive mulheres grávidas amarradas e não raro de cabeça para baixo - mortas sobre torturas, em paus-de-arara. Uma forma insólita e delicada de defender a democracia contra o comunismo.

Já escrevi alguma vez, mas não custa repetir, que pregávamos a proibição dos papelotes no quadro de avisos da única sala de redação de "O Diário" jornal onde por consequência acabou por transformar-se em mural com notícias que jamais saberíamos, como não sabemos até hoje. Onde estão os cadáveres dos militantes contra a ditadura? Pois bem.