quarta-feira, 5 de maio de 2010

Afinando o vocabulário...


As discussões que venho acompanhando sobre gestão e clínica em caps mostram, para mim, uma fragilidade dessas duas posições no cenário atual. Nenhuma das duas posições parecem se sustentar enquanto tal, e isso pode ser bastante grave, não é mesmo? A gestão prescinde de uma norma burocrática – no bom sentido – que faça a máquina girar. Em contrapartida a clínica é a especificidade que faz furar por vezes essas normas. O que percebo muitas vezes é que há uma confusão de papéis e onde a gestão falhou a clínica se burocratizou – aí sim no mau sentido – e onde a clínica falhou a gestão mostra o seu furo. Defendo uma idéia que pode parecer antipática, mas aí vai: não acho que exista uma “clínica de caps”, como muitos falam ao ilustrar uma ou outra intervenção complexa. Sequer acho que a complexidade tem a ver com a quantidade de atores envolvidos em um caso, embora não exclua essa possibilidade. Os Caps são meros dispositivos para que a clínica se opere. Mas não são os únicos, nem os melhores. Os Caps não podem ter um mandato clínico específico sob o risco de empobrecimento do trabalho. Acho ainda arriscada a comparação e superposição desses papéis de gestão e clínica. Para se ter uma idéia, recentemente recebi em uma reunião aqui no capsi onde trabalho uma psicóloga que acompanhava determinado paciente em uma instituição social que dizia fazer com aquele paciente um “atendimento psicossocial”. Quando lhe questionei se ela o atendia clinicamente, ela respondeu enfaticamente que só fazia atendimento psicossocial. Quando por fim lhe questionei sobre isso, ela não soube me dizer como trabalhava... Infelizmente isso é mais comum do que se imagina. Tenho a impressão de que entre gestão e clínica sempre haverá, conceitualmente, um abismo intransponível. Na prática, é importante termos a noção clara dos espaços de cada um para que nenhum dos dois trabalhos fique engessado.

Espero que eu tenha me feito entender e que minha opinião possa contribuir com o grupo.

Abraço a todos,

Lícia Fabris Colodete Libanio
Médica Psiquiatra
Vitória - ES

Nenhum comentário:

Postar um comentário