domingo, 7 de junho de 2009

Cecy em Brasília


Certa vez um desses milhares burocratas de Brasília enviou uma circular proibindo médicos e outros servidores públicos federais de viajar de primeira classe, em voos nacionais ou internacionais. Seria cômico, se não fosse trágico. A instituição não dispunha - para os trabalhadores, claro - de verba, sequer para uma viagem ao interior do Estado, de ônibus, que fosse. Andaram naquela época tentando impressionar o FMI, entre outros truques cortando radicalmente despesas que não existiam, dizem os entendidos.

Bem fazia minha querida tia Cecy (foto) tão precavida que não casou ("Sexo obrigatório só mediante estupro", explicava) e jamais desembarcava em Brasilia, a cidade que nunca existiu, sem um guarda-chuvas, um lança-chamas e uma metralhadora Uzi de fabritcação israelense e uso exclusivo das forças armadas, mas que todo bandido tem.

O, por assim dizer, governo do então FHC decidiu, com a mesma arbitrariedade da ditadura que fingiu combater, que "concurso público não mede a capacidade de ninguém" e anulou o efeito deste, mesmo para os já concursados. O critério passou a ser a perversão: nepotismos, vínculos de amizade, e outras sacanagens de conhecimento público. Como se sabe, os cargos federais são cabides de emprego para cabos eleitorais. Esses, evidentemente, matam-se em suas principais tarefas de campanha que ninguém é besta para perder a teta governamental. Tudo isso, às nossas custas, minha senhora. Nessa estranha e bizarra brincadeira entraram no seu governo – Lula viria a fazer o mesmo – 140 mil pessoas pelo janelão. Feito isso, vendeu o país. Então.

O país sem lei, governado por casuísmos, enveredou para isso que todos vemos. Cada um fabrica sua própria ética. As instituições públicas são olhadas com desconfiança e a população – toda – morre de medo dos bandidos. Os pobres bandidos, bem entendido. Não se discute, como se sabe, as questões verdadeiras. O que se esperar de uma nação que orgulha-se de possuir a segunda maior concentração de renda do mundo. No Brasil quase toda a grana está na mão de menos de 10% das pessoas. Os 90% de miseráveis que se virem. Alguns se viram. Ou seja, instala-se a fabricação de miseráveis famintos em série. Daí a uma quadrilha não está faltando nada. Sem contar as bandalheiras do bacanas, digamos assim sempre impunes.

Lula se vira à la Perón distribuindo esmolas e garantindo o tipo hediondo de popularidade baseada nas frases feitas, na imagem dos contos de fadas e na gigantesca ignorância nacional em quase todas as classes sociais. E os médicos com isso? Um profissional da categoria citada, com 30 ou mais anos de serviço, admitido através de concurso público – lembram do finado DASP, responsável pela seleção? – com mestrado, doutorado e devidas especializações percebe o líquido de pouco mais de dois mil reais por mês. Sem contar com as imorais reduções de salário, cada vez que um feiticeiro da economia – Bresser e semelhantes – resolve engordar a caixa dos BBB oficiais tirando diretamente do bolso do funcionário. Vemos na imprensa as justas reivindicações de profissionais de “carreiras especiais” para o reajuste de seus salários – para mais de 20 mil, por exemplo.

Um médico, para começar, tem como objeto de trabalho e estudo o semelhante. O outro, o cliente é a sua própria representação e a sua doença também. Cada exame, cada diagnóstico é extremamente mobilizador, hipocondrias à parte. O médico trata daquilo de que vai morrer. Não seria especial essa carreira? Senão, por que não?

O quadro se apresenta como um filme de terror. Hospitais mal aparelhados, para onde migram todos os problemas sociais, inclusive sustentados por homens e mulheres que cumprem o juramento de Hipócrates, alguns já sexagenários, em pronto-socorros e enfermarias sem condições de trabalho, muitas vezes sem poder dormir. Essa carreira por acaso não seria especial? Senão, por que não?

Quando aperta o bolso os sindicatos ligados à classe – alguns "lulistas" que só vendo – simulam uma greve que invariavelmente é julgada ilegal. O governo faz o que faz com todos: manda umas esmolinhas de centavos, divididas em sete anos. E olhe lá.

Então é isso que é essa uma carreira especial? Ah, bom.

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