domingo, 5 de julho de 2009

Mermão, meu personal flanelinha


Mermão e sua esposa, Etelvina
Ele me trata de doutor. E eu de o chamo de Mermão. Todos os moradores do prédio o olhavam com desconfiança, só porque, digamos, na falta de férias e sequer trocados, costumava veranear no confortável complexo penitenciário.

Ninguém sabia quem era Mermão, que pairava de flanela em punho pela rua fazendo... O que é mesmo que eles fazem? Expliquei para a moradora do 20ª andar, codinome Trombeta do Apocalipse, porque só dá notícia ruim, sua situação social e pedi sigilo. Em seguida, claro, espalhou para todo mundo, como era no fundo a minha intenção.

Para compor o quadro dentro da inevitável normopatia – a patologia da normalidade - arranjei uma sigla bem americana para tecer seu currículo: “Trata-se do meu “TCMC” (Took Care of My Car.

“Ainda bem", soprou a senhora Trombeta. "Pensei que era um desses meninos de rua”. Mal sabe ela que meu distinto confrade já é avô de rua: nasceu na rua, seu filho também e, agorinha mesmo, o neto. Toninho Pano de Prato já tem 15 anos.

Pois bem. A entidade em questão, munido apenas de um pano – “flanela só no Natal doutor” – exibe o milagre da multiplicação das vagas. Não me perguntem como, mas jamais deixei de estacionar bem em frente do meu lar por falta de vaga.

O imposto que cobra, corresponde, e muito, ao trabalho, Explica tudo no plural para dar mais ênfase, acho:

“Os pessoais pensam que nós tamos aqui para trambicarmos”

“Entendi Mermão. Corre que vai saindo uma Mercedes sob tua jurisdição, aviso.
Cascateiro de responsa, desses de fazer inveja ao Lula, dirige magicamente as vagas à beira da calçada que parecem mover-se à sua vontade.

A nobre categoria respeita religiosamente as áreas de cada um. Jamais, desde que o mundo é mundo, houve uma única guerra por questão de espaço vital entre as ruas Afonso Cláudio e Chapot Presvot, dois países amigos e organizados. E olha que eles são chamados nas páginas policiais de artefatos de extermínio em massa.

Ao contrário da ONU que impede os países de se organizarem de verdade, organizando de mentirinha, os flanelinhas de nossas ruas têm seu código de ética e protegem os carros.

Mermão me contou que apareceu um suspeito - o que é suspeito mesmo? - querendo informações, coisa e tal, "com maleficências de intencionalidades". Sempre no plural, explicou-me que “se eles querem, vamos dizermos assim, se darem bens, que se arrisquem nas paradas com os homens e se arrisquem-se.

Leitores é que Mermão já fala pela nova ortografia (Meu Deus, o presidente não aprendeu nem a antiga). Quis dizer que espantou o meliante para fora das cercanias.

Agora, querem regulamentar Mermão.

Ligou o interfone e jogou suas lágrimas, sempre no plural:

“Doutores, essas ideias de regulamentarem as nossas profissões, pinta os maiores medos. Eu não confiaria minhas flanelas para eles tomarem conta”
Respondi que isso era um exagero, e que nossos edis estavam tentando organizar a cidade. e coisa e tal.

- O que são edis doutores?

- Mermão são pessoas plurais.

Vou parar porque Majestic, meu cão de estimação, está comendo a Folha de São Paulo que acabei de comprar.

- Já para fora animal, antes que uma telefônica veia para cá te oferecer um plano especial.

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