terça-feira, 7 de julho de 2009

Fora da lei

Cópia do novo modelo de diploma de jornalista dado por qualquer um. Picasso está querendo regulamentação

Imagine, apenas imagine. Algum dia, em certo lugar, em nome da liberdade, alguém sem frequentar qualquer curso de Medicina resolvesse, por exemplo, realizar cirurgia cardíaca. Imagine, ainda, que o argumento fosse o da igualdade de direitos, nesse caso o de ajudar o próximo. E, como argumento, frases feitas. Claro que a lei que estrutura a vida social estaria sendo suprimida.
É exatamente ela, a lei que diferencia os homens dos animais. Se assim não fosse, qualquer estudioso e simpatizante do Direito poderia ser juiz, desembargador ou advogado em nome da liberdade. A existência do Sujeito como cidadão e sua saúde depende, insubstuivelmente, da relação com o semelhante, os outros. Não se concebe uma língua que apenas uma pessoa fale ou uma religião que só uma pessoa professe.

Mas, como sabemos, nada é tão ridículo que não possa ficar ainda mais. Eis que instâncias supremas e superiores resolveram acabar com o jornalismo em sua tradição. É sempre bom lembrar que a palavra “tradição” vem do latim "tradirae", isto é, trazer. Então, o jornalismo deixou de ser uma profissão para que possa ser exercida por qualquer pessoa, pelo que vemos acontecer, de interesse do poder.

O jornalismo incomoda, sempre haverá de incomodar. Notícia deve incomodar alguém em algum lugar, o resto é propaganda. A tarefa maior de qualquer ditadura, é impor a censura. Agora, cria-se a censura sob a forma de desativar através da desorganização. Acabou-se a lei, a necessidade do diploma.

Ninguém neste pais, desde que se instalou a democracia, sofreu restrições ao pensar e escrever o pensar para justificar mudança radical. Ser jornalista ou não, é uma questão técnica do “como fazer” pertinente a qualquer profissão. Este cala-boca vem sendo tentado há anos.

Ora vejamos: a república das falcatruas oficiais, dos palácios roubados, dos enriquecimentos ilícitos, das nomeações secretas, resolve desorganizar a imprensa. Por que será? Não seria novidade se fossem criadas cotas para o número de profissionais nas redações, que ocupariam, assim, o único espaço verdadeiramente democrático que chegou com fim da recente ditadura. Desorganizar para desativar.

Imagino que as redações ficariam cheias de porta-vozes oficiais, que acabariam de vez com as incômodas denúncias cotidianas praticadas por quem deveria. E não, da imprensa. Falta muito pouco para que os jornais sejam escritos por jornalistas chapa-branca ou assessores de imprensa. Será a apologia do caos.

Caros senhores ditadores de todos os matizes, o Brasil não lhes pertence. De vez em quando, de uma forma ou de outra, se lança um cala-boca na verdade. Seja pelas armas, seja por decretos ou leis como esta. A psicopatia – distúrbio patológico psíquico, ligado ao descumprimento da lei – pouco a pouco se apodera do imaginário social do país.

Um comentário:

  1. O que posso dizer a respeito deste ridículo fato é que estamos regredindo a era do CAPITALISMO EXCLUDENTE, ou se preferirem ao TAYLORISMO-FORDISMO, tão bem destacado por Karl Marx, onde a mão-de-obra baseava-se unicamente no "ver fazer", ou seja, estão colocando os jornalistas na na situação em que viviam os operários na época da revolução industrial.

    Pois se já não se necessita diploma, todos são facilmente substituíveis pelo exército de reserva, nome dado aos desempregados por Marx...

    Como destacado por Bonates, é a censura maqueada...

    Sds

    Daniel Leite

    ResponderExcluir